sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Chegámos!

Portuguese/English

CONSEGUIMOS! 

Alcançámos aquela famosa esfera situada no Cabo Norte, o ponto mais a Norte da Europa! 
Foi duro, muito duro, principalmente nestes últimos dias, mas, podemos dizer que conseguimos.

Os detalhes ficam para o próximo post, mas posso dizer que chegámos ao Nordkapp na terça-feira, dia 13, por volta das 01.30h da manhã porque, quando saímos de Honningsvag, as nossas pernas não paravam, queríamos chegar e a ansiedade não nos deixou repousar enquanto não pisámos aquele chão.

Sensações?
Uma mistura delas... Alívio, felicidade, orgulho, preenchimento, amor... mas demorámos a cair na realidade! O nosso percurso está feito.

Hoje, em conversa, chegámos à conclusão que caso nos perguntassem como muitas vezes o fizeram "para onde vão?", ficaríamos engasgados porque demoraríamos alguns segundos a chegar à conclusão que a nossa linha no mapa chegou ao topo e este desafio chegou ao fim!

Obrigado a todos vocês, amigos!
Obrigado aos que nos conhecem desde sempre, aos que nos conheceram agora, obrigado aos que nos seguem, que nos apoiam, obrigado a toda a família, obrigado por terem todos dito "Não desistam!", obrigado a todos os que sempre acreditaram e um muitíssimo obrigado a todos os que nunca acreditaram. Conseguimos não só por nós, mas por todos vocês! Obrigado por terem marcado estes quase seis meses da nossa vida com o vosso carinho!
Obrigado 

Obrigado a todas as lojas e marcas que confiaram em nós e acreditaram no nosso projecto, a vossa ajuda foi preciosa! Manuel Vaz Pereira - Rollei Bullet HD PortugalCenas a PedalMais PedalPolisportCasa Abilio Bike Tavira.

Agora, em especial, um obrigado aos 80 couchsurfers e amigos que nos acolheram ao longo destes 5 meses e 14 dias. Obrigado por terem partilhado o vosso espaço, a vossa boa energia e por nos terem oferecido um pouco do que são de melhor! Todos, têm um lugar especial no nosso coração!

Nota: Assim que chegarmos a Trondheim vamos tratar de todas as fotos/vídeos e irei fazer um relato bastante mais detalhado da nossa chegada ao Nordkapp!

Ate já,
T&T

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ENGLISH

WE DID IT!

We achieved that famous sphere situated at the North Cape, the northernmost point of Europe!
It was hard, very hard, especially in these last days, but we can say we got.

The details are for the next post, but I can say that we have reached the Nordkapp today, around 01.30h in the morning because when we left Honningsvag, our legs would not stop, we wanted to get to the end and our anxiety does not let us rest until tread that ground.

Sensations?
A mixture of them ... Relief, happiness, pride, fulfillment, love ... but we we took to get real! Our journey is made.

Today in conversation, we realized that if someone were to ask us, as it often did, "where do they go?" We would be choking because it would take a few seconds to reach the conclusion that our route on the map and turned this challenge came to an end !

Thank you all, friends!
Thank you to those who know us always, those who know us now, thanks to those who follow us, who support us, thank you to all the family, thank you for all said "Don't give up!" Thanks to all who have always believed and one many thanks to all those who never believed. We managed not only for us but for all of you! Thanks for these marked nearly six months of our lives with your kindness!
Thank you 

Now, in particular, thanks to the 80 CouchSurfers and friends who accepted throughout these 5 months and 14 days. Thank you for sharing your space, your good energy and and thank you have offered us a bit of what you are best! All have a special place in our hearts!

Note: Once we get to Trondheim we treat all photos / videos and I will do a much more detailed account of our arrival at Nordkapp!

See you,
T&T

sábado, 4 de maio de 2013

Diário de Bordo - 12 de Março de 2013 - Dia 11


Mérida - Trujillo
85km média de 13 km/h 6h a pedalar

Tivemos que acordar cedo, para sair de casa com a Conchi que ia trabalhar, bebemos café e provámos uns bolinhos regionais da terra dela. Quando saímos de casa já estava a chover, Conchi recomendou-nos, para o nosso pequeno-almoço, um chocolate quente com churros de um quiosque perto de casa e não resistimos. Os churros são mais típicos  no Norte de Espanha, mas, pelo que nos disseram, já se começaram a espalhar por toda a Espanha. Estávamos à espera de churros do tamanho dos que encontramos nas feiras populares em Portugal e, por isso, pedimos meia dúzia para dividir pelos dois, ficámos surpreendidos quando nos aparece à frente um prato todo preenchido de churros que mais pareciam farturas! O chocolate quente soube muito bem e os churros estavam bons mas só conseguimos comer quatro, ficámos surpreendidos com o preço, os seis churros custaram 1,25€. Sabemos que este não foi dos pequenos almoços mais saudáveis, mas foi um pequeno deslize. 

Quando estávamos já montados na Abília, veio ter connosco uma rapariga bastante apressada e começou a falar meio “baliês” meio por gestos, provavelmente por ter percebido que éramos estrangeiros e acompanhei-a até à mesa onde estávamos sentados, aí percebi que ela pensava que a mala que estava presa na cadeira era nossa mas, na verdade, era do senhor que já lá estava sentado.

Achámos curioso encontrar, ao longo do caminho, centenas de lesmas e daquelas grandes e gordas. O Tiago foi-se desviando delas, andando em zigue-zague pela estrada mas ainda bem que o fez, que só de me imaginar a esmaga-las já me agoniava. 

A aventura começou mais cedo do que pensávamos, ainda não tínhamos chegado à montanha e o verbo “subir” já fazia parte do caminho, percorremos cerca de 10km no meio do nada com umas subidas bem generosas.

Quando chegámos a Alcuescar, já passava das 15h e quando perguntámos por um super-mercado, como os supermercados fechavam às 14h, mandaram-nos para o restaurante mais barato da zona que, por acaso, tinha um Dia mesmo ao lado e ainda estava aberto, claro que aprovetámos. Assim que saímos, os pobres empregados, que estavam à nossa espera, fecharam as portas e nós, cheios de fome, comemos mesmo ali, sentados na rampa das descargas. 

Depois do almoço e de retomarmos caminho, ficámos de boca aberta, não porque continuávamos com fome, mas sim pelo que estávamos a ver, a serra de Montanchez! Para algumas crianças, o nome “Papão” provoca pesadelos mas, para nós, passou a ser “Montanchez”. Não é uma serra monstruosa mas, como é curta, a inclinação é super acentuada. Foi neste momento que nos apercebemos que a tandem não foi feita para subir pois, para além de estar carregada, não existe sintonia entre nós os dois para pedalar em pé e, com o auxilio do conta-quilómetros, concluímos que somos mais rápidos a caminhar com a Abília ao lado do que a pedalar.

As curvas na montanha dão cabo de mim... É como estar a ver a luz lá no fundo, pensar que depois da curva temos uma bela e alucinante descida, imaginar o ventinho a bater-nos na cara e, segundo a segundo, pedalada sofrida a pedalada sofrida, muito lentamente, percebo que não há descida e vou avistando a estrada que continua a subir e a subir...

Parámos dezenas de vezes para respirar fundo e beber água, tenho que admitir que não foi fácil. Notei que os momentos maus são alimentados por pensamentos negativos, enquanto me esforçava a subir queria pensar em memórias boas que me dessem ânimo mas, não sei porquê, só me lembrava de momentos infelizes do passado que me provocavam ainda mais tristeza, raiva e até desespero. 

Claro que nem tudo foi mau, na montanha pudemos desfrutar de coisas únicas e exclusivas daquele ambiente como das cores, do verde vivo, dos pequenos riachos, dos pássaros e dos seus diferentes sons, das dezenas de vacas e ovelhas super pacíficas e com um ar alegre... Sentimo-nos num mundo à parte, tivemos momentos só nossos e tivemos a sensação de liberdade extrema. Atenção! Isto tudo foi vivido antes e depois de subir, claro! Ao longo das subidas só sentíamos as gotas de suor a escorrer pela cara!

Aproveitamos este momento para desmentir aquele velho ditado que diz que “tudo o que sobe, desce” pois, neste caso, a descida quase não se notou e depois ainda tivemos que passar por quatro terras de sobe e desce até ao destino. 
Tivemos que parar em Cumbre, uma terra a 8km de Trujillo, para comer algo e ganhar forças que já eram praticamente nulas. Estávamos rebentados tanto física como psicologicamente, já nos doía o corpo todo e só queríamos um sitio para dormir, portanto foram os 8 km mais longos da nossa vida e cada metro custava a alcançar. Quando vimos a irmã e o sobrinho da Conchi a acenar foi como um “ALELUIA!”, o Pablito (sobrinho da Conchi) esteve toda a tarde à janela à nossa espera mas, infelizmente, chegámos umas horas mais tarde do que o previsto.

Depois de um banho e de descansarmos, jantámos juntos à volta do aquecedor e tivemos a ajuda do casal a encontrar o melhor caminho para o dia seguinte.

Fomos para a caravana, brutal! Nunca tínhamos dormido em nenhuma e ficámos bastante entusiasmados, adoramos este tipo de conceitos para viajar e é algo a pensar para um futuro. Era super acolhedora e demorámos pouco a adormecer.

Até já,
T&T

Diário de Bordo - 11 de Março de 2013 - Dia 10


Badajoz - Mérida

Fotos do Dia - Click na foto

75km média de 16,5 km/h 4h a pedalar

Acordámos e sentimo-nos razoavelmente recuperados, contudo a preguiça era infinita. Depois da rotina matinal, fomos até à cozinha comer algo e encontrámos um bilhete da Elena a desejar-nos uma boa viagem e que foi um prazer ter nos conhecido, já está guardado como recordação.

A tarefa de sair de Badajoz não foi muito simples, andámos um pouco às voltas até encontrar o caminho certo. Isto porque, seguimos o sinal de caminho secundário para bicicletas mas, quando chegamos a meio dessa estrada, estava completamente inundada. Talvez em Espanha, as bicicletas tenham bóias incorporadas para este tipo de situações mas a pobre Abília não e, por isso, tivemos que, à chuva, procurar outras estradas. Como não estávamos a conseguir, restou-nos bater à porta de uma casa no meio do nada, a porta abriu-se e, do outro lado, uma senhora anã indica-nos a estrada correcta. Finalmente, saímos de Badajoz!

O trajecto foi relativamente simples e plano, conforme pedalávamos fomos desfrutando da paisagem e reparando que todos os rios que encontrámos estavam a transbordar e o nível da água nas pontes estava altíssimo por causa das chuvas. 

Sabíamos que íamos passar por uma terra com um nome bastante caricato, Montijo, e tivemos que parar para almoçar e recordar a nossa cidade de Portugal. Mas, fica já aqui assente que o nosso Montijo é muito mais bonito e interessante que o Montijo espanhol, pareceu-nos uma cidade muito cinzenta e pálida e sem nada de interessante para ver.
A próxima paragem foi feita numa terrazita, porque começou a chover abundantemente e decidimos descansar numa paragem de autocarros até que parasse.

A uns quilómetros de Mérida, começámos a avistar uma montanha assustadora e tememos passar por ela, apesar disso não ter acontecido, o percurso custou-nos à mesma pois a montanha tinha uma família numerosa e os seus primos mais novos (montes) estavam instalados no nosso caminho.

Conforme nos aproximávamos de Mérida, íamos ganhando a ideia que era uma cidade enorme, pois encontrámos algumas placas de entrada na cidade em vários sítios, só depois nos apercebemos que a cidade tinha várias entradas por as ruas estarem espalhadas por todo o terreno e não haver nada realmente concentrado.
Pelo caminho, podémos ver uma arena de corrida de cavalos, bastante interessante.

O ponto de encontro que marcámos com Manuel foi a Praça de Touros da cidade, assim que nos avistou indicou-nos o caminho para a sua casa, deixámos a Abília na garagem e fomos tomar banho, descansar, petiscar algo e, Manuel e Conchi, a sua companheira, levaram-nos a conhecer a cidade. Ficámos fascinados, Mérida trata-se de uma cidade romana, contudo tem alguns toques árabes. Nota-se a organização dos Romanos na construção das ruas, pois existe um centro/praça e todas as ruas partem daí mesmo. Conhecemos o Anfiteatro, algo parecido com o Coliseu de Roma mas com dimensões muito mais reduzidas, contudo não deixa de ser majestoso e imponente. Manuel aconselhou-nos a visitar a cidade uma segunda vez mas pelo Verão, para poder assistir a uma peça de teatro que nos leva ao passado a partir da imaginação, deverá ser fantástico podermos nos sentar numa bancada daquelas e apreciar um teatro Romano, de facto, é uma forma fácil de viajar até à época dos romanos e conhecer melhor a sua história.

Depois, fomos conhecer o Templo de Diana, quando me disseram o nome imaginei algo parecido com o Templo de Diana de Évora, estava redondamente engana e, quando me deparei com aquele monumento trinta vezes maior que o de Évora, tive dificuldades em conseguir fechar a boca de tão espantada que estava. Manuel contou-nos algo curioso, todos estes “restos” romanos antes não eram valorizados e reconhecidos, então faziam simplesmente parte das construções da cidade como adorno ou complemento e, o Templo de Diana, há cerca de 40 anos atrás foi a casa de um professor de História. Acredito que aquele senhor tenha morrido realizado e feliz!

Ainda conhecemos dois aquedutos, enormes também e bastante bonitos mas tivemos algumas dificuldades a tirar fotografias porque era de noite e, apesar de terem sistema de iluminação, estava desligado.
Depois da visita guiada, Manuel e Conchi convidaram-nos para comer algo e fomos a um bar típico que se encontrava mesmo no centro da cidade. Comemos uma tábua de tapas com presunto, morcela, chouriços e queijos que estava divinal.

De volta a casa, tivemos a ajuda do Manuel na pesquisa das rotas do dia seguinte e Conchi falou com a sua irmã para ficarmos na sua caravana que estava em Trujillo, a nossa próxima paragem!
Antes de dormir, falámos com a nossa família por Skype mas já não restavam forças para escrever o Diário de Bordo.

Até já,
T&T

domingo, 10 de março de 2013

Diário de Bordo - Dia 8 e 9

Estremoz - Badajoz

Foi a primeira vez que dormimos no chão, estreámos as esteiras e a experiência não foi, de todo, agradável! Acordámos com a sensação que tínhamos sido atropelados por um autocarro. Já estávamos engripados há uns dias e, o facto de dormirmos no chão, ajudou a que ficássemos cheios de dores no corpo. Mas tomámos o pequeno-almoço e a dose diária de medicamentos e toca a despachar!
Enquanto montávamos tudo na Abília, conversávamos com o Comandante. É camionista e ofereceu-nos boleia para Madrid ainda esta semana, agradecemos imenso mas não aceitámos, queremos realizar este desafio por nós mesmos e só em situações extremas aceitaremos uma boleia. Também nos avisou que o percurso a partir de Madrid não seria nada fácil, vamos apanhar muita montanha. Enfim, um dia de cada vez, no momento logo pensaremos nessas subidas.
A primeira paragem foi em Borba, parámos numa pastelaria pequena para bebermos um café e não resistimos a provar um doce típico do Alentejo (género de pirâmide de mel e açúcar com pedaços de bolacha) e uma fatia de salame para nos dar força. Os clientes, antes de entrar, repararam na Abília e meteram conversa.

- Então, estão a viajar? - perguntou uma cliente.
- SIm, vêm de Sintra e vão até Badajoz! - Disse a empregada.
- Sim, hoje vamos até Badajoz.
- E depois voltam para trás? - Perguntou a mesma cliente.
- Não, seguimos... Até à Noruega!
(Bocas abertas e Pasmo total)

Depois dos comentários e questões comuns (se os estudos estavam terminados, se juntámos dinheiro, quanto tempo ia durar, para aproveitarmos agora que somos novos, etc), pagámos e, enquanto saíamos, ainda conseguimos ouvir:
“Estes gaiatos...”
Até Vila Boim apanhámos algumas subidas que, como estamos constipados e só respiramos pela boca, nos fizeram soar e beber muita água. Pelo caminho, encontrámos uns caçadores que assavam um chouriço numa fogueira e perguntaram se não nos queríamos aquecer... Aquecer? Estávamos com tanto calor que se nos atirassem um balde de água fria ainda agradecíamos. Perguntámos se conheciam um sitio barato ali perto onde se comesse bem e indicaram-nos um sitio em Vale Boim. Até lá chegar, enfrentámos uma bruta subida mas acreditem que valeu a pena! Precisávamos de comida quente, pedimos uma dose de febras e deliciámo-nos! Desde as azeitonas, o pão, as febras tenras e muito bem temperadas, as batatas fritas caseiras e, para terminar, a mousse de chocolate caseira! Soube tudo muito bem e, realmente, não foi muito caro! E, quando estávamos a beber café, entraram os caçadores que tínhamos encontrado antes, acenaram contentes por nos ver!
De barriga cheia, lá voltámos ao pedal e, em menos de nada, chegámos a Elvas, onde tivemos que parar para fotografar a imensidão daquele aqueduto. Mete realmente respeito!
Só voltámos a parar na fronteira, junto à placa “España”. Para nós, aquela placa simbolizou uma vitória, o primeiro objectivo alcançado!
- Se há dois anos atrás te dissessem que ias estar agora a atravessar a fronteira de bicicleta, o que dizias? - Perguntou o Tiago.
- Ria-me e chamava essa pessoa de maluca, nem sabia andar de bicicleta. - Conclui eu.

A vida é irónica, de facto. Antes de partir, tivemos que ouvir comentários como “A grande notícia vai ser quando chegarem ao Pinhal Novo e voltarem para trás.” e “Tiago, vais ter que pedalar muito sozinho.” e, apesar de sabermos que chegar a Espanha ainda não é nada, olhar para a placa “España” fez-nos rir desses comentários.
Fizemos as últimas chamadas a custo 0 para os nossos familiares e arrancámos para a nova etapa. Ao chegar a Badajoz tivemos a sensação que atravessamos uma porta e entrámos noutra dimensão, dezenas de pessoas a deslocarem-se em bicicletas e a própria cidade fornecia condições para isso.
Ainda em Arraiolos, o Tiago viu, no Google Maps, onde ficava a casa da Elena (a rapariga que nos recebeu em Badajoz) e não é que se lembrava ao pormenor e viemos dar, sem enganos, direitinhos à casa dela? O Tiago tem um dom, tenho dito.
Antes de chegar, tivemos um grupo de miúdos a acompanhar-nos a passo de corrida, gritando “Portugal!”.
- De donde vienen?
- De Lisboa!
- Joe, lejos no?
- Bueno... Nos vamos a Noruega...
- QUE?!?! No me lo creo!
E correram em direcção a outro grupo, gritando o que tínhamos acabado de lhes dizer.
Bem, como conseguimos encontrar a casa da Elena, tocámos à campainha. Ela veio à janela dizer-nos “Hola!” e veio-nos ajudar com a carga, colocámos a Abília no prédio e subimos. Elena é muito simpática e tem uma casa acolhedora e repleta de arte. Em todas as divisões, existem dezenas de fotografias antigas e quadros. Dá gosto olhar para as paredes!
Tomámos banho, metemos a roupa a lavar e fomos ter com uns amigos dela ao centro de Badajoz, como era Sábado, vimos imensa gente na rua em espirito de “Fiesta”. Até chegar ao destino, Elena foi fazendo guia turística e mostrando um pouco da História de Badajoz. Passámos em Badajoz tanta vez e nunca tínhamos reparado em alguns monumentos realmente interessantes e bonitos.
Encontrámo-nos com os amigos de Elena, conversámos um pouco e um deles, Manoel, ofereceu-nos um mapa da Extremadura e casa no nosso próximo destino, Mérida! Fantástico! Manoel teve que ir embora e os restantes amigos tinham um concerto, seguimos então para um restaurante típico para petiscar algo. Sentámo-nos e qual não foi o espanto do casal amigo da Elena quando olharam para o lado e viram que a banda que iam ver dentro de uma hora estava sentada mesmo ao nosso lado!
Deixámos a Elena e os restantes escolherem a ementa e, desde o momento que os pratos chegaram à mesa, vimos que fizeram uma bela escolha! Provámos uns ovos estrelados com uns legumes, tudo misturado, que estava delicioso; fatias de presunto da zona que estavam no ponto e secretos de porco também muito saborosos.
O casal apercebeu-se que os membros da banda terminaram e sairam do restaurante e, despedindo-se de nós, fizeram o mesmo. A Elena, na hora de pagar, antecipou-se e ofereceu-nos aquele manjar! Agradecemos imenso!
Quando chegámos a casa já não tinhamos força nem para pestanejar e fomos dereitinhos para a cama!
O Tiago passou mal a noite, acordou todo suado e cheio de febre. Andamos a toque de medicamentos há já alguns dias e a noite em Estremoz tramou-nos ainda mais. De manhã, não estava melhor e nem se conseguia levantar, explicámos à Elena e ela disse-nos para ficarmos até amanhã, assim ele recupera e curamo-nos de vez. Aproveitámos para descansar e passear por Badajoz e amanhã seguimos para Mérida.



Até já,
T&T

Diário de Bordo - Dia 7

Arraiolos - Estremoz

Sabem o que mais me tem irritado nesta viagem? O barulho irritante e alarmante do alarme do telemóvel do Tiago! Parece uma sirene de incêndio e toca tão cedo que me deixa logo nervosa de manhã!
Supostamente, devíamos sair de casa por volta das 10h, mas a chuva batia forte no telhado e as nossas cabeças pesavam nas almofadas. Feitos preguiçosos, ficámos na cama mais um pouco. Depois do pequeno-almoço, de guardarmos o abastecimento de comida que a Patrícia nos deu e de organizar e montar todas as malas, tirámos a fotografia de despedida com a Patrícia e, por volta das 12h, começámos a dar ao pedal. Foi difícil dizer "Até um dia!" à Patrícia, uma pessoa fantástica que em três dias nos conseguiu marcar e deu-nos vontade de comprar um atrelado e trazê-la connosco!
Sobre o pedalar... Que diferença brutal! Quase voámos até Estremoz! A velocidade máxima quase duplicou e havia subidas à mesma, os braços do Tiago também se queixaram muito menos! Ficámos mesmo contentes com esta mudança da Abília, não nos arrependemos nada do que tivemos que tirar.
A meio da viagem conseguimos ver algo que já quase que não nos lembrávamos que existia: o Sol! Não consigo passar para palavras, a sensação que é. depois de tantos dias a ver o céu cinzento e a chuva a cair, olhar para cima e ver o azul vivo, as nuvens brancas e o sol brilhante! E a junção disso com a paisagem magnifica que tivemos ao longo do caminho tornou o momento perfeito!
Em duas horas, vimos dezenas de coelhos a correr sem dó nem piedade pelo mato fora. Enquanto os seguia com os olhos, apercebia-me que, em 4 dias, ainda não tinha conseguido sentir a Natureza pura do Alentejo! O cheiro, o ar, as cores... E poder apreciar tudo isso pedalada a pedalada, muito lentamente, é... mágico!
Parámos em Vimieiro para almoçar e repousar, portanto chegámos a Estremoz por volta das 16.30h. Ou seja, demorámos 2.30h a pedalar 45 km! Muito melhor!
Chegámos aos Bombeiros e pedimos abrigo para dormir, aguardámos pelo Comandante e, mais uma vez, os Bombeiros não nos falharam! Temos um ginásio gigante por nossa conta e autorização para tomar um belo banho! Como, quando chegámos, o ginásio estava ocupado, fomos passear pela cidade e comprar algo para jantar.
Nenhum de nós conhecia Estremoz e ambos ficámos surpreendidos positivamente com esta cidade! Muito bonita e catita. Reparámos que existia vida e movimento pelas ruas, o centro é histórico e tradicional, com muito comércio e sem aquele aspecto de cidade fantasma como muitas que conhecemos. Visitámos também o castelo, renovado e com paisagens lindíssimas! Adorámos o pormenor de, conforme subíamos pelas ruazinhas do castelo, podermos ver dezenas de casinhas preservadas desde a altura!
Tirámos fotografias, brincámos, rimos, passeámos e fomos ao supermercado... estávamos estafados e era hora de recolher. De volta ao quartel, tomámos banhinho, jantámos e estamos agora a usar o computador de um dos bombeiros que o disponibilizou pois não conseguíamos aceder à Internet no nosso!
Daqui pouco estamos no mundo dos sonhos e amanhã esperamos estar em Badajoz!




Até já,
T&T

quinta-feira, 7 de março de 2013

Diário de Bordo - Dia 6

Arraiolos

Hoje, ao acordar, deparamo-nos com ventos a 50 km/h! Vestimo-nos cheios de força e energia e tentámos dar uma volta pela vila, com a Abília sem carga, para avaliarmos a situação. Impossível! O vento era lateral e muito mais forte que nós! A Patrícia tem sido cinco estrelas, a casa é bastante confortável mas não queríamos nada ficar mais um dia parados, tentamos ser lógicos e, a verdade, é que com este vento faríamos um esforço absurdo e não passaríamos dos 20 km, ou seja, ficaríamos no Vimiero. Assim, amanhã com chuva mas com muito menos vento daremos o nosso melhor para chegar a Estremoz.
Hoje aproveitámos para passear por Arraiolos, parámos num café pequenino e muito regional e foi magnifico ouvir as conversas das senhoras que ali estavam. Com um sotaque alentejano acentuado, debatiam sobre o novo grande desafio da terra, coser o maior tapete de Arraiolos do Mundo, atingindo os 120 metros de comprimento. Cada uma se gabava dos seus dotes de costura e entraram quase em competição para decidirem quem era a melhor.
Depois, passámos pela Biblioteca e ficámos na Internet até a chuva parar, também gostamos do pormenor de, no geral, haver um comportamento mais reservado e comprometedor e de nos sentirmos observados, em terras pequenas é fácil reconhecer gente nova.
Ao chegar a casa, fomos pesar todo o material que retirámos das malas…

Material retirado:

- 4 tshirts (duas cada um);
- um par de calças de ganga;
- dois colchões Queshua A200 Light (ficamos com as esteiras)
- dois sacos de calor
- três sacos de gelo
- três pares de luvas de BTT
- bisnaga de Massa lubrificante
- Liquido para as lentes de contacto de 360ml (levamos um frasco pequenino de viagem)
- uma lanterna de dínamo que não funciona muito bem
- dois lençóis para saco de cama;
- uma corda com 20 m
- bisnaga de cola
- agrafador e recargas
- espelho
- borracha
- dois copos
- um bloco de post it
- saca correntes (avariado)
- fio de pesca
- um isqueiro (temos outro)
- duche solar
- bloco de notas (temos um caderno)
- três bilhas de gás de 220g
- creme hidratante

Calculem lá o peso que isto tudo tinha?
8,200 kg!!!

Temos a certeza que se vai notar a diferença e estamos cheios de vontade de comprovar amanhã!
Ficámos contentes pois a corda, o creme e a borracha terão mais utilidade com a Patrícia. :)
O jantar hoje foi feito por nós. Uma bela e calórica massa com natas e delicias do mar! Bebemos um chá de chocolate para me inspirar e agora: Ala! Para a caminha!
Amanhã é dia de partida e de um novo “Até um dia!”

quarta-feira, 6 de março de 2013

Diário de Bordo - Dias 4 e 5

Montemor-o-Novo - Arraiolos

Assim que nos deitámos, entrámos no mundo dos sonhos. Estávamos preparados para, a qualquer momento, saltar da cama com a buzina dos bombeiros caso houvesse alguma emergência mas, a única coisa que nos acordou, foi o nosso despertador às 8 horas. Estávamos exaustos, ficámos na ronha um bom bocado mas lá teve que ser. Higiene feita e roupa vestida, bora lá para a tarefa diária de colocar tudo na Abília - 45 minutos! Comemos qualquer coisa e fomos agradecer ao Comandante, extremamente amável, por todo o apoio que nos deram. O sol brilhava, mas o céu estava a escurecer e, como já estávamos “escaldados”, vestimos os impermeáveis e seguimos viagem, isto às 10.30h.
Ainda estávamos doridos do dia anterior e durante o caminho, já a chover, começámos a fraquejar e tivemos que parar a meio do caminho. Sentámo-nos no chão, colocámos o toldo por cima de nós e, comendo uma maçã, olhámos para o Além e pensámos (desesperando) “Quando é que esta M**** de tempo vai passar?!”... Ficámos ali um bom bocado, a chuva abrandou, parou e começou novamente... Bem, vamos lá!
Esquerda, direita, esquerda, direita... O Tiago pára. “Já não aguento mais! Fiquei sem forças.”
Doía-lhe imenso os braços, a Abília estava muito instável e exigia muita força de braços para a controlar e o vento não ajudava em nada. Sentámo-nos novamente, desta vez sem chuva. Foi o primeiro momento de desespero, o primeiro teste, a primeira resistência. A Telma não esperava aquela reacção do Tiago, ficou quase como paralisada mas percebeu que tinha que agir. Abraçou-o, tentou, com calma, fazer-lhe ver que desistir era a última coisa a pensar. Depois de uma boa e longa conversa, os ânimos voltaram e apareceram soluções mais lógicas como, revermos o que temos e tirar a carga que poderá estar a mais e que seja dispensável.
Voltámos a pedalar e, a 7km de Arraiolos, avistámos uma estação de serviço que ouvimos a chamar por nós! Parámos, estacionámos a Abília e fomos comprar um gelado para nos alegrar o dia e acomodar o estômago com um pouco de açúcar. Ficámos na esplanada (com toldo) a olhar para a chuva a cair sem dó e começámos a fazer uma lista mental do material que podíamos tirar. Entretanto, dois caçadores saem do café e...

- Bah! Acho que deixei uma fresta da janela aberta! O meu banco deve estar todo molhado! - Disse um deles.
- Já nós não temos esse problema, o nosso é descapotável. - Disse o Tiago, rindo e apontado para a Abília.
- Então? Vocês estão a andar de mota com este tempo?!! - Exclamou o caçador.
- Não, é mesmo uma bicicleta! - Dissemos quase em coro.
- Ai! E vão os dois ali? Que loucura! Vão pra longe?
- Para a Noruega!
- Meu Deus!!! Isto é que é aproveitar a vida! Muito bem! Gabo-vos a coragem! Força han! - Disse enquanto saía.

Quando a chuva passou, retomámos caminho, muito mais animados e com mais energia. Víamos uma subida (foram bastantes!) e riamos dela, desfrutámos ao máximo das descidas (uma delas a 55km/h) e tirámos algumas fotografias. Quando estávamos a chegar, começou a chover e procurámos um abrigo, mandámos mensagem à rapariga de Couchsurfing que estava à nossa espera e disse-nos que morava ao pé dos Bombeiros, que já tínhamos visto que estávamos perto, então subimos uma rua e chegámos em menos de 5 minutos. Conhecemos a Patrícia, colocámos a Abília na garagem, levámos as malas para o “nosso” quarto e respirámos fundo! Finalmente debaixo de tecto! Conversámos um pouco com a Patrícia para nos conhecermos melhor, percebemos logo desde inicio que era uma excelente pessoa, muito simpática, mente aberta e gosta de conhecer e descobrir. Ela tinha que sair e deixou-nos a chave caso quiséssemos passear, despimos os impermeáveis molhados, calçámos as botas secas e fomos passear por Arraiolos. É uma terra muito bonita, tradicional e catita. Fomos ao supermercado comprar o belo do pão alentejano e algo para beber e seguimos para o castelo que estava no topo da cidade. Ao subir as escadas até lá, íamos apreciando a vista magnifica da zona, escolhemos um sitio para lanchar, sentámonos e, quando estávamos a deliciar-nos, começa a chover! Vá de correr, nada de abrigos, restou-nos a entrada em pedra do castelo. Passada uma hora, a chuva parou e lá fomos a passos largos até casa, onde tomámos um banho quente.
Quando a Patrícia chegou, preparou um jantar vegetariano, um género de legumes salteados e cogumelos (gourmet!) com couscous que estava maravilhoso.
Conversámos tanto, que nem demos pelo tempo passar. Vimos o tempo para o dia seguinte e ia chover a potes e fazer muito vento, também precisávamos de descansar e ganhar forças para voltar a pedalar então pedimos à Patrícia para ficar mais um dia e a resposta foi instantânea e afirmativa. Quando olhámos para o relógio percebemos que já passava da meia noite e era hora de dormir, chegámos ao quarto e tínhamos dezenas de chamadas perdidas dos nossos familiares! Já estavam em pânico e a fazer filmes dignos de um Óscar. Depois de os tranquilizarmos, fechámos os olhos e Puf!
Foi um dia intenso, já nos tinham avisado que este tipo de descaídas iam acontecer e que tínhamos que nos apoiar mutuamente e confirmamos! Hoje foi o Tiago, um dia será a Telma. Definitivamente, nenhum de nós faria esta viagem sozinho, deixava de fazer sentido, não teríamos um ombro para chorar nos maus momentos, um corpo para abraçar quando estivéssemos radiantes, uma mão para agarrar quando o medo chegasse e, sobretudo, não teríamos alguém com quem partilhar a beleza do que vamos conhecer. Se fosse só um de nós, no regresso contaria tudo o que passou mas a emoção era só dele e não de ambos.

“Era um castelo mesmo no pico da montanha, com um muro em pedra a fazer um circulo. ‘Tás a ver?”
“Não, não estou, Não estava lá.”

Assim, choramos, rimos, desesperamos e vivemos tudo o que há a viver juntos!

Hoje, quarta-feira, ficámos por Arraiolos e nem saímos de casa. Descanso absoluto! Tem estado frio, vento e chuva e, felizmente, temos apreciado tudo isso pela janela! Temos os ténis a secar e vamos tirar o peso a mais.
Já tivemos um lanchinho com a Patrícia, um chá de doce-lima, compotas caseiras e uns biscoitos de Alfarroba e outros de azeite, Espelta e ervas-doces.
Logo, comemos uma sopa quentinha e vamos dormir para amanhã acordarmos cheios de energia para levar com chuva em cima!


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